Do Campo Abandonado para a Cidade Suportada: Campo e Cidade na Literatura Brasileira
Palavras-chave:
Literatura - Brasil, Crítica Literária, Campo e Cidade , LiteraturaSinopse
Em minhas primeiras lembranças se entretecem, com os fios da memória, uma imagem da cidade e uma imagem do campo. São imagens que se interpenetram e se vinculam à minha experiência familiar. Dentre as mais remotas, as de minha mãe e de minha avó. Da primeira, rosto e olhos e uma cor. Da segunda, um calor bom de proximidade física num carro em movimento. Minha mãe, olhando para mim, sobre a calçada de uma rua movimentada, vestia uma camiseta rosa de bolinhas brancas. Minha avó materna, sentada comigo no banco traseiro de um ford landau, a caminho da fazenda. Trânsito. Asfalto. Prédios. Velocidade. Estrada de terra. Vacas. A centenária casa branca de janelas verdes.
Naquele tempo – não tão distante –, minha avó morava na fazenda, e, minha mãe, na cidade. Como eu não podia ficar, ao mesmo tempo, com as duas, alternava temporadas em um lugar e outro. Às vezes, chorava, na fazenda, de saudade de minha mãe. E, na cidade, de saudade de minha avó. Cresci e, embora às vezes ainda chore por outros motivos, gosto de estar nesses dois lugares.
Já o primeiro contato literário que tive com a cidade se deu quando eu tinha quinze anos, em uma época em que vivia uma verdadeira paixão pela obra de Érico Veríssimo: li toda sua obra em, aproximadamente, seis meses. Foi assim que travei conhecimento com a Jacarecanga de Clarissa, com a Santa Fé de Floriano Cambará, com a Porto Alegre da mesma Clarissa e de Vasco, com a Antares de Tibério e, também, com a inominada cidade do Desconhecido, protagonista de Noite, obra que, atípica em relação ao todo da produção do autor de Música ao longe, foi uma das que mais me chamou a atenção.